quinta-feira, novembro 23, 2006
O amor
O amor, quando se revela, Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
quinta-feira, novembro 16, 2006
Se te pareço ausente, não creias:
hora a hora minha dor agarra-se aos teus braços,
hora a hora meu desejo revolve teus escombros,
e escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites nesse breve sono;
não dês valor maior ao meu silêncio;
e se leres recados numa folha branca,
Não creias também:
é preciso encostar teus lábios nos meus lábios para ouvir.
Nem acredites se pensas que te falo:
palavras são meu jeito mais secreto de calar
Lya Luft
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