quinta-feira, dezembro 28, 2006

Religare


E o verbo se fez carne...
Nada será como antes. Nada.
Eis que tudo se fez novo. Posso ver.

A palavra. A ação concreta.
Morte.Vida.
Trevas. Luz.

Ligado ao Eterno, novamente.
O caminho. A cruz.
Metamorfose.

Patrícia Prado

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Um pouco de Quintana

- Boa tarde... - Boa tarde! - E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado, vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...
E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.

Mas vem-me a idéia... nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!
Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nossas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Ate breve! - E, com espanto
Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles dois que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!

Mário Quintana - Soneto Póstumo

Canção do Amor Imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!

Mário Quintana