domingo, outubro 09, 2005

Ética e Ciência: A transformação do pensamento

Segundo o dicionário Michaellis, ética é o conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão. Para os gregos, esses princípios estavam relacionados aos juízos sobre o bem, a verdade, a justiça e eram ditados pela consciência moral de cada indivíduo, os mundos da racionalidade e da liberdade.
Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o pensamento ético passa a ser guiado pelos princípios cristãos. A Igreja, detentora do poder, cria diretrizes normativas à sociedde. Os indivíduos perdem sua autonomia e deliberação humana passando a ser controlados pela idéia de culpa pessoal.
Entre os séculos XIV e XVI, ocorre uma ruptura radical entre os valores medievais marcado pelo surgimento de uma visão moderna do mundo chamada Renascimento. Esse movimento é caracterizado pela valorização do homem, do pensamento hedonista ou da busca dos prazeres materiais, e pelo retorno da cultura clássica greco-romana que promovia a exaltação física e intelectual do homem. Enquanto esse movimento renascentista esteve presente apenas no âmbito artístico, a Igreja não se opôs, mas sua reação de negação se deu no surgimento da ciência experimental moderna ou ciência empírica.
Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e Galileu Galilei são alguns dos homens que ousaram contestar a filosofia vigente, a escolástica. Copérnico e Bruno questionaram o modelo geocêntrico da organização cósmica do universo. Este radical e intransigente foi queimado em praça pública pela Santa Inquisição como herege no ano de 1600, aquele faleceu antes de receber a punição. Apesar de toda censura, a Igreja não conseguiu impedir o desenvolvimento da ciência.
Com a transição dos modelos econômicos, feudalismo para capitalismo, a ciência deu um salto rumo a tecnologia. Maquinários foram criados, a comunicação era aperfeiçoada, tudo em função da nova ordem mundial: a expansão comercial.
O acúmulo de capitais faziam com que potências como Inglaterra e França buscassem novos mercados consumidores através da colonização. Com a expansão territorial e comercial surgiram as revanches e a guerra se tornava inevitável. A morte rondava a Europa.
Duas guerras de âmbito mundiais foram presenciadas pela humanidade. A primeira que durou de 1914 a 1918, teve como motivo previsível as contradições próprias do capitalismo. A segunda, que durou de 1941 a 1945, transcendeu os elementos físicos, tornando-se uma violência moral, mental representadas pelo fascismo e pelo nazismo. O ponto em comum destas guerras foram as disputas imperialistas.
Mas o que a ciência tem com estes eventos até então descritos?
Em 6 de agosto de 1945, o mundo viveu o horror da primeira bomba atômica que destruiu completamente a cidade de Hiroshima. No dia 9 do mesmo mês e ano, Nagasáqui é dizimada pela segunda bomba atômica. A liberdade científica gerava a morte.
Hoje a discussão que ronda o mundo científico é até onde a ética deve permear no que diz respeito às pesquisas e sua atuação. Nunca se falou tanto em tecnologia, em desenvolvimento. O homem deixou o campo da metafísica e adentrou no campo experimental. A clonagem já não é algo impossível. Dentro dessa realidade, surge a pergunta: o mundo está preparado para tantos avanços?
Em 1955 perguntaram a Jonas Salk, criador da vacina da poliomielite, quem era o dono da patente, sua resposta foi: "ninguém. Você poderia patentear o sol?" Segundo Rodrigo Cavalcante em seu ensaio para a Revista Super Interessante de Julho 2002, "a resposta de Salk lembra uma era de inocência, quando a aventura da descoberta, o reconhecimento dos colegas e do público eram as principais motivações dos cientistas".
Casos como o da canadense Karen Ruggiero, uma promissora psicóloga que fazia pesquisas na conceituada Universidade de Harvard nos Estados Unidos exemplifica os típicos pesquisadores de nossos tempos. Karen simulou dados estatísticos para formular sua tese. A punição foi o corte na verba bilionária destinada à pesquisa durante os próximos cinco anos. Segundo Lawrence Rhoades, diretor do Office of Research Integrity, agência vinculada ao Departamento de Saúde americano que recebe e julga denúncias de fraudes acadêmicas, 85% das denúncias que o ORI recebe estão relacionadas à manipulação de dados em pesquisa.
Quando o assunto é dinheiro até a ciência se rende. Muitas pesquisas são financiadas por grandes empresas criando um vínculo com as mesmas. Assim, como se pode confiar nessas pesquisas se os cientistas que a fizeram são acionistas ou prestam assessória para às mesmas? Como não saber se os dados não foram manipulados a fim de prestigiar o produto, ocultando-se o interesse financeiro?
Se a ciência deixou de ser direcionada para o bem comum, o que ela tem se tornado? O que tem motivado os cientistas de nosso século? Qual tem sido a ética de um pesquisador ao desenvolver armas biológicas ou ao produzir mutações genéticas em um ritmo cem vezes maior que o da natureza criando assim monstros genéticos?
Os noticiários divulgaram a inspeção de agentes da ONU no Iraque com intuito de interditar os laboratórios de armas químicas. Muitos que acompanharam esse processo creram em uma intervenção baseada na preocupação com o bem estar da humanidade. Mas qual foi a verdadeira motivação dessa intervenção? Foi o bem da humanidade ou a preocupação em não ocupar mais os primeiros lugares na disputa bélica como na época da Guerra Fria? Ou uma vingança pelo embargo petrolífero?
Em suma, o homem sempre esteve em busca de sua liberdade intelectual, de sua participação no mundo das descobertas. Mas nessa busca perdeu-se, pois o que o norteava não era o bem comum, mas a ambição. Essa cega os homens, deixa-os cativos de sentimentos egoísticos, insensatos e desumanos.
Se a ética é guiada pelos princípios morais que regem uma profissão, pergunto: tem havido ética na ciência? Tem havido preocupação com o futuro da humanidade? Nossos jovens sabem o que é ética profissional? Nossas universidades, que têm o papel fundamental no ensino desse preceito, têm cumprido sua função? Têm sido éticas?
A liberdade que os homens conquistaram os aprisionaram em seu louco desejo de tornar-se um deus, como Sartre mesmo disse: "a melhor maneira de conceber um projeto fundamental da humanidade é dizer que o homem é o ser cujo projeto é tornar-se Deus, porque, ser um homem significa estender sua mão em direção a tornar-se Deus, ou se você preferir, o homem fundamentalmente é o desejo de ser Deus."
Patrícia Prado

O Fim

Os homens mentem. Todos mentem.
Navalha na carne, punham que dilacera a alma,
A falácia que compõe a música do dia.

Mentes que compactuam do engano,
Que se aprisionam em laços de morte,
Que sangram a alma, que fazem perder a vida.

Não as falácias, não as mentiras,
Não ao desprezo.
Quero viver a liberdade da verdade,
Quero o fim.

Patrícia Prado

O mar e eu

Pequenas gotas caem no oceano.
São lágrimas que se unem a imensidão azul.
Minhas lágrimas banham as sereias,
Minhas lágrimas alimentam o mar

Porque choras? pergunta-me o mar.
Choro pelo amor que partiu.

No infinito azul um pequeno barco
Leva-me de encontro a você.

Onde estás ò amor que partistes?
Onde estás que deixaste-mes a prantear junto ao mar?

Porque choras? pergunta-me o mar.
Choro pelo amor que partiu,
Choro porque sei que não vou mais amar.

Patrícia Prado

Darkness

É noite. Todos dormem.
Almas boas e más,
Dormem o sono da desilusão.

O sono da desilusão ou da ilusão?
Espíritos vagueiam em busca dessas ilusões.

Quem as transformará em verdade?
Quem pagará pelo realizar?

É noite, todos dormem.
O sono é livre. É profundo. É solto.
O sono da morte. O sono do esquecimento.
O sono dos infelizes mortais.
Nas sombras da noite me escondo.
Adentro a floresta sombria de minh'alma.
Entre o ambiente úmido dessa floresta
Relembro os dias alegres
Onde o calor do sol trazia a existência
As mais belas flores.

Orquídeas, jasmins, rosas...
Todas a perfumar os meus dias.
Mas agora são apenas pétalas
Caídas entre meio a selva...

De quem se escondes?
Ecoa minh'alma.

Escondo-me do amor,
Escondo-me da dor,
Escondo-me de mim.

Um fio de luz adentra a selva.
É a luz do sol. Novamente essa luz
Que cega os meus sentidos,
Que aquece a minha dor.

De quem se escondes?
Ecoa minh'alma.

Escondo-me do sol,
Escondo-me da luz,
Escondo-me de ti.

Patrícia Prado

Confissão

Tenho Medo. Tenho medo do outro.
Medo de suas falácias, de suas palavras vãs e sutis.
O medo é meu.
Guardo-me em uma fortaleza.
Tenho as chaves. Somente eu posso abrir.

Às vezes olho pelas frestas da janela e contemplo os raios do sol...
é quente... é bom...
Saio. Devagar, sorrateiramente.
Mas, ao primeiro som estranho volto novamente à fortaleza.
E me armo. Protejo-me.

Esse é o segredo. Confesso à você.

Já não é mais um segredo. Você o conhece.
Agora somos dois a guardar um segredo.
Mas somente eu tenho as chaves.

Patrícia Prado