segunda-feira, agosto 27, 2007

O que restou de mim

Segunda-feira, 27 de agosto de 2007. Uma data a mais no calendário que teimosamente eu risco religiosamente todos os dias. Conto os dias mas de uma maneira diferente: não espero nada ao fim deles, conto-os por contar.
O tempo que se foi é apenas um marco, não quero que seja uma marca, não posso permitir. Vazio... Vazio... Vazio...
Converso com amigos. Eles sofrem. Sofrem por amor, sofrem pelo não amor, sofrem... Sua dor se junta a centenas, milhares por que não dizer bilhões de pessoas nesse imenso território chamado planeta Terra que sofre pelo sentimento mais banalizado: o amor. Lennon, já nos havia alertado que tudo que o mundo precisava era de amor; e eu e você, não precisamos também disso?
Olho para os seres. Corpos ocos, mentes vazias, zumbis... e eu a fazer parte dessa grande massa de homens e mulheres que não tem mais tempo para ouvir, para me ouvir... eu também não tenho tempo para ouvir, eu não quero ouvir...
Silêncio... dentro desse coração silêncio. Silêncio que é quebrado pela fúria da razão que teima em tirar-me do calabouço ao qual deixe-me ser levada. Quero mas não consigo, não sei sair...
A loucura veste-se de sanidade e aparenta a normalidade. Hipocrisia. Somos todos hipócritas. Ninguém vê? Ninguém percebe? Ninguém me percebe? Estou farta, estou cansada, estou faminta, estou morrendo. Eu morri. Para os sonhos, para o tempo.... e o que restou desta luta trágica? Nada, absolutamente nada. Nem pó, nem cinzas. Não restou nada...

quinta-feira, agosto 23, 2007

Universidade, lugar de todos?

Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer... Quem nunca ouviu esse refrão? Quem não cantarolou essa frase algum dia? Esse foi um dos hinos de uma geração que lutou bravamente contra a incoerência, contra a mentira de um país que sempre pregou a democracia. Hoje, esse mesmo hino eclode na mídia anunciando uma nova era onde a democracia se faz ver através da educação. Novamente essa será a canção de muitos. Mas os que irão cantar sabem o porque cantam? Dizem por aí que quem canta os males espanta, mas nesse caso será preciso mais que uma bela canção para espantar o mal que está por vir. Ao mencionar essa canção, faço menção do Pro-Uni. Uma proposta do governo para inserir a grande massa nas Universidades Privadas. Uma boa estratégia? Talvez, mas não sejamos de todos pessimistas. Tudo na vida é relativo e não seria diferente nessa questão. Existem os que defendem tal ação como forma de dar oportunidade aqueles que não foram afortunados pela vida e não tiveram uma base educacional que os ajudasse a concorrer com as “Patrícinhas” e “Mauricinhos” da vida. Assim, o governo dá uma mãozinha pró povão e o povão dá uma mãozinha pró governo e é claro para a nação pois a educação é a grande mola propulsora do progresso! Outros já são contrários e dizem que tal ação favorecerá apenas os empresários que estão cheios de cheques sem fundo e uma lista de nomes pronta para o SPC. Favorável ou contra a pergunta que fica hoje é: os que estão a entrar com o aval do governo sabem os que o esperam? Será que a Universidade é um lugar onde o saber se desenvolve sem discriminação, onde todos somos irmãos, mauricinhos, patrícinhas e tatis da vida andam juntos em busca do saber a fim de que nosso país tenha a ordem e o progresso que tanto almejaram os positivistas? Pois bem, que abram as portas das Universidades, que entre o povo, mas que todos saibam que a discriminação se apresenta na fala dos mestres e como um sino que soa faz com que suas badaladas ecoem sobre todos criando um exercito que empunha o preconceito como a arma de seu combate. Negros na Universidade? Deficientes? Escola pública? Cota? Que gente é essa que entra pelos portões da GRANDE ACADEMIA e divide os bancos com aqueles que (não sei porque) tem o direito a estarem aqui? Que gente é essa que “rouba” parte das vagas nas GRANDES INSTITUIÇÕES PÚBLICAS? Que gente é essa que não consegue pensar, mas está aqui entre nós, as GRANDES MENTES PENSANTES? Que gente é essa que sai dos guetos e traz um novo som que tenta se afinar com o dos GRANDES MESTRES POSITIVISTAS? Que gente é essa que quer ser gente, mas não consegue pensar como gente GRANDE e por isso faz com que nosso ensino caia? Esse tem sido o discurso de muita gente grande nas Universidades Públicas sobre os cotistas. E o que dirão dos Pró Uni da vida? Esse é apenas um pequeno ensaio de uma discussão que deve continuar. E enquanto nos preparamos, vamos caminhar e cantar pois a morte é certa e o futuro só a Deus pertence! Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Papalagui Honestino um integrante dessa gente.

Texto redigido por Patrícia Prado em dezembro 2005 como manifesto há discriminação sofrida pelos cotistas em uma Universidade Pública de Minas.

terça-feira, agosto 21, 2007

Um passeio pelo Mercado Central

Uma mistura de cores e cheiros recebe-nos. Vozes que se misturam a sons diversos. Pessoas se cruzam, outras se encontram. Essa é a imagem que se forma ao entrar no Mercado Central.
Criado em 07 de setembro de 1929 pelo então prefeito Cristiano Machado, o Mercado Central é um dos pontos turísticos de Belo Horizonte e traz ao visitante a sensação de estar em um cantinho qualquer do interior de Minas.
Apesar de suas miscelâneas de opções, desde animais até vinhos finos, o Mercado permite-nos esquecer o barulho dos carros, a fumaça da cidade, os arranha-céus que nos cerca e nos faz sentir o jeitinho mineiro simples de ser.
Um bom exemplo são os bares. Sem mesas ou cadeiras, os “bares” mais freqüentados são pequenos corredores onde pessoas se apertam a fim de encontrar um espaço junto ao “balcão”. Os atendentes “convidam” as pessoas aos gritos: “ai amigo, uma geladinha?” e assim mais um cliente é conquistado.
Além de flores, objetos, comidas entre outras coisas, o Mercado Central possui também uma capela construída em 1974 para abrigar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, doação de uma comerciante de frutas que alcançou uma graça.
Esse lugar exótico onde o sagrado convive pacificamente com o “profano” aprendemos a enxergar o mundo com as lentes da simplicidade.
Visitar o Mercado Central é permitir-se encontrar com a história e a cultura de Minas. É vivenciar sensações que o mundo moderno muitas vezes nos rouba. Aprender a aprender. Aprender viver.

Patrícia Prado

segunda-feira, agosto 06, 2007

Um pouco de Antropologia nas Lentes da Sétima Arte

V. de Vingança
A mídia como aparelho de reprodução da cultura dominante é um dos pontos a se destacar no filme V. de Vingança.
No enredo, a potencia mundial não é mais EUA e sim a Inglaterra e essa tem na figura do Chanceler seu chefe de Estado.
Esse governa e controla todas as atitudes dos cidadãos. As emissoras de Tvs reproduzem o que o Estado acha conveniente, ele é a lei e seu guardião.
Em busca de uma vingança plantada há 20 anos V retorna das “cinzas” e começa a eliminação daqueles que outrora foram seus algozes.
Nessa busca ele encontra Evey e ambos descobriram verdades ate então desconhecida. V. descobre o amor e Evey a libertação do medo.
Além da morte de seus carrascos V. tem outro objetivo: libertar seus compatriotas das algemas que os prendem as idéias de um Estado opressor e manipulador. Para isso ele utiliza da mídia, a mesma arma de seu opositor.
Mais que uma ficção, V. de Vingança retrata o poder que a mídia tem sobre as pessoas. As informações que dela surge tem um tom de verdade e sobre elas a sociedade programa sua vida.
Um aparelho que reproduz a cultura, um forte dominador. Utilizando-se da linguagem e da imagem a mídia cria hábitos estabelecendo padrões de conduta. E quem dita esses padrões? A cultura dominante.
Assim um fantasmático vai surgindo em detrimento do epseidico. Loucura? Não realidade. Somos produtos de uma sociedade que baseia seus pressupostos morais nas leis do capital. Somos filhos do capital, e nosso preço oscila conforme a utilidade de cada um para o Estado.
Vendidos somos. Como filhos bastardos somos tratados por esse Estado que figura como um pai mas age como um carrasco. Traídos, somos entregues a nossa própria sorte ou a sua escolha.
Estrutura-se assim os fundamentos da cultura e uma legião de alienados são comandados por ela.
Ao final do filme o herói-bandido morre, mas deixa algo: as idéias. Mas idéias são mais importante que pessoas? As idéias são tão poderosas quanto os aparelhos reprodutores do Estado?. Estaríamos dispostos a morrer pela verdade ou a ignorância ainda é uma maneira mais segura de sobreviver? O Estado não aceita concorrência, eis a questão.
Patrícia Prado

The Matrix

Um filme que a todo momento faz alusão a textos sagrados, assim é Matrix. No enredo que traz a visão do futuro próximo e do controle das máquinas sobre os humanos a ficção busca na realidade subsídios para a construção do problema.
Neo, o Messias aguardado por alguns que acreditam na profecia de um oráculo possui o arquétipo de um avatar.
No primeiro momento não entende o propósito de sua vida mas o encontro com Morpheus abre-lhe a visão e esse prepara-lhe o caminho, como João preparou o de Jesus.
Rico em detalhes, Matrix é a reflexão do mundo e da manipulação dos sistemas vigentes sobre os homens.
De um lado temos alguns que conseguem ver além do que os olhos podem enxergar, conseguem ver a Matrix um sistema de controle das mentes e que tem como guardiões homens que se baseiam em regras.
Mas se a força dos guardiões está nas regras e nela também reside sua fraqueza.
Viver sobre um mundo de regras é viver sobre o domínio de um sistema e isso significa que não somos apenas nos tornamos aquilo que o sistema deseja. O sistema não pode dizer quem somos mas pode dizer quem ele quer que sejamos.
A cultura tem esse poder. Ela molda-nos segundo o seu habitus e como espelhos refletimos sua ética. Somos reflexos da nossa cultura.
Complexo e perturbador pensar na escravização do pensamento pela cultura parece-nos algo impróprio e pior sem resposta. Mas quando os olhos começam a doer é porque estamos começando a utiliza-los em toda a sua potencialidade, conforme diz Morpheu a Neo.
A liberdade é algo particular de cada ser, cabe-nos apenas mostrar a porta, abrir ou não é uma escolha particular.
Pensando nisso podemos inferir que estar submerso na ignorância é talvez uma maneira mais segura e confortável de se viver. Uma vez que os olhos se abrem não há como retroceder e a responsabilidade com a verdade chamam-nos a cena.
Para esses “escolhidos” pela verdade existem apenas um caminho: a morte. Deixar as coisas velhas, os pensamentos mortos e ressurgir e a ressurreição só acontece onde há amor.
Cristo foi morto e ressuscitou porque o amor venceu a morte, Neo perde a vida, mas o amor de Trinity o resgata das sombras da morte.
A esperança da humanidade está no amor. Se os homens entenderam isso seremos livres, livres das emoções frívolas, livres dos desejos que nos aprisionam, livres do interesse que manipula e escraviza vidas.
Quando isso acontecer deixaremos de ser máquinas para nos tornarmos verdadeiramente humanos.
Patrícia Prado

The Matrix Revolution

Segundo os estudos da biologia o cérebro é uma grande rede onde as conexões são feitas entre os neurônios.
Para os defensores da teoria conexionista o senso da realidade depende dos objetos da cultura. São eles que fazem a conexão entre o mundo real e o virtual ou não real.
Nada existiria sem os objetos. Algo somente tem significado quando é apresentado e nomeado. A linguagem é outra ferramenta de conexão.
Em Matrix Revolution, Neo encontra-se preso entre o mundo real e o virtual, entre a realidade e a Matrix. Sua mente não consegue compreender essa dualidade e para libertar-se precisa da ajuda de outros.
Ninguém enxerga além de uma escolha que não entende diz o oráculo. As escolhas dos objetos é que nos direciona e nos conecta aquilo que queremos.
As ofertas são inúmeras mas somente o que é significativo passa a ser real e as vezes é preciso a escuridão para ver o que seja real.
Em um momento do filme Neo fica cego. Seus olhos são feridos e ele perde a visão. Com a ajuda de Trinity Neo é guiado até as cidades das máquinas a fim de cumprir seu destino, o propósito para o qual fora escolhido.
Nesse momento as imagens da realidade surgem a sua frente. Com os olhos feridos ele vê o real.
Temos muitas vezes a falsa ilusão de que o que enxergamos é a realidade e a cultura tem um papel preponderante nessa percepção. Acostumados com essa visão da realidade não se cogita a possibilidade de uma nova perspectiva.
Treinados nossos neurônios se conectam a imagens pré-estabelecidas. Nada é inato tudo é forjado, preparado para a construção de mais uma mente igual a tantas outras. Mas um fio de esperança: não somos de todo programados, não somos máquinas (por mais que os conexionistas digam que sim), somos antes de tudo seres pensantes e essa característica leva-nos ao questionamento de certos habitus, de certos ethos, de certos normas morais.
Patrícia Prado

The Matrix Reloaded

O homem que possui a chave que leva a Matrix é prisioneiro. Intrigante metáfora. Quantas vezes possuímos as chaves, mas não podemos utiliza-las? Quantas vezes sabemos o caminho, mas não conseguimos percorre-lo?
Em Matrix Reloaded algumas frases são verdadeiras chaves que nos serve de respostas para algumas indagações. Uma delas diz respeito as escolhas: escolhas são ilusões, construídas pelos que tem poder e os que não tem. Porque no fundo não temos controle de nossas emoções.
Controlados por outros. Nossas vidas, nossas emoções, nossos desejos. Como ser somos nossas escolhas futuras já estão pré-determinadas pelas regras morais da cultura. Somos respostas dessas regras e damos continuidade a elas.
Assim umas massas de iguais vão surgindo. Mesma forma, mesma aparência, mesmos desejos. Escravos da causalidade todos estão à espera de um milagre e esse milagre são os eventuais que surgem. A eventualidade da vida leva-nos a uma tomada de atitude e essa escolha muda o destino, transforma-nos de pessoas normais a escolhidos.
Tudo é ilusão e é através da linguagem que a ilusão toma forma de verdade, de real.
Um programa perfeito: alguém cria as ilusões e as passa a uma massa de alienados porém uma anomalia pode comprometer o perfeito funcionamento do sistema: o amor.
Em Matrix o amor de Trinity o faz ressurgir em Reloaded é a vez de Neo provar seu amor. Entre salvar Zion e milhares de pessoas e Trinity Neo escolhe a segunda opção. A escolha. O problema da anomalia está na escolha.
Patrícia Prado

A Dança dos Cabelos




A seguir uma linda história escrita por um grande amigo. Seu nome? Ramos ou para os mais íntimos Tierro ou se preferir simplesmente David.


Um sábio Pajé fez uma revisão na língua dos índios.
— Nossa língua tem muitas palavras desnecessárias, ele disse.
— Vamos apagar o “olá” pois nos vemos todos os dias...
— O “talvez” também temos que tirar pois quando estamos juntos não devemos ter dúvidas...vejamos, ele disse pensativo; também o “adeus” temos que esquecer, pois aqueles que se gostam não devem se separar. E assim fez o Pajé, limpou o dicionário das palavras indesejadas na esperança que a população da tribo se tornasse mais feliz do que era.

Mas o tempo foi passando e ao contrário do que o Pajé imaginava, as pessoas foram ficando cada vez mais velhas e tristes. O que está acontecendo, ele pensou, todos deveríamos ficar felizes ao tirar de nosso convívio palavras que não nos são agradáveis, que nos remetem a sentimentos que nos afastam. Foi quando o grande Deus do Tempo se abraçou aos cabelos do Pajé e segredou-lhe;
— O ser humanos é um vulcão, mas ao invés de fogo, quando se ergue ele profere, ele diz, ele fala. Todas as palavras são úteis, e quanto mais se sente, mais força as palavras devem ter. Inventem palavras pois não tem limite a quantidade de sentimentos que a humanidade pode guardar, pode sentir...


Com toda certeza, foi um sentimento muito forte que fez com que criassem a palavra Saudade. Sentimento tão forte que vários idiomas ainda não tem uma palavra correspondente ao que sentimos quando estamos distante de uma pessoa querida. Devemos a palavra “Saudade” aos portugueses, que se lançavam ao mar em busca de novas terras e que traziam no coração a ausência dos queridos. Você também está prestes a sair de nosso convívio, não por vontade ou motivos, mas por capricho, capricho do mesmo Deus do Tempo que nos pôs a inventar palavras. Mas tenha a certeza, gostamos muito de você e estamos já aprendendo novos sentidos para a palavra saudade, assim como descobrindo novidades na palavra amizade!
Tenha força e coragem onde quer que vá.