sexta-feira, novembro 09, 2012

Reflexos e Reflexões


Comecei a viajar, não tanto pelo desejo de fazer pesquisas etnográficas ou reportagens mas por necessidade de distanciar-me, de libertar-me e escapar do meio em que tinha vivido até então, cujos preconceitos e regras de conduta não me tornavam feliz.
Pierre Verger – 50 anos de fotografia

Estive na exposição de Pierre Verger e fiquei encantada com as fotos, objetos, histórias retradas a partir das lentes sensíveis desse homem que queria libertar-se dos preconceitos culturais que nos afastam dos homens. Entre as imagens e objetos ali expostos, uma sala em especial chamou-me a atenção. Uma sala decorada com espelhos. Foi impactante.
Os ambientes se completavam mas essa sala em especial não se unia a nada. Era bem diferente.
Minha primeira reação foi perguntar o porque de tantos espelhos. A pessoa que estava comigo achou uma resposta prática: para que todos possam ver refletido no espelho o vídeo que estava sendo mostrado na sala. Aceitei em um primeiro momento.
Hoje, porém, comecei a refletir sobre aquela sala e penso que seu significado vai além. Para que tantos reflexos se a imagem é uma só?
Os estudos sobre física nos diz que quando a luz incide em uma superfície plana ocorre uma reflexão dessa luz que formará uma imagem. Em corpos cuja superfície são rugosas ou irregulares não há formação de imagem, pois esses corpos refletem apenas sua própria forma, textura e cor.
Mas como essa imagem nos é mostrada? Como a percebemos em nosso consciente? A reflexão dos feixes de luz nos leva ao que podemos chamar de "ilusão de ótica". Vemos uma imagem em tamanho real, com a mesma forma mas que parece encontrar-se atrás do espelho, invertida.
A imagem que vemos não é real. A imagem que reflete é apenas uma ilusão, uma caricatura do verdadeiro Self.
Os espelhos que a refletem são os mesmos, planos, lisos, produzem a mesma imagem, mas os olhos que contemplam a vêem diferente.
Se há uma regra para a formação dessa imagem porque ela se reflete de forma diferente para cada observador? Seria o ângulo de incidência que provocaria essa distorção? Seria a percepção do observador? O que transforma uma imagem? O que faz uma imagem deixar de ser real? O que vemos é o real?
Perguntas, perguntas, sempre perguntas. Passaremos nossa vida a nos perguntar o que é real, o que é verdadeiro, o que vale a pena. Alguns encontrarão a resposta naquilo que lhe apraz outros viverão a agonia da indecisão, outros se alienarão. A verdade é que estamos buscando o que é
real no outro, não sei se encontraremos.
As máscaras parecem ser mais atrativas que a revelação da verdade. Encenar no palco da vida é a grande atração do século. Esconder-se atrás de personagens gerados pelas neuroses que criamos é a forma que encontramos de sobreviver. Nos perdemos.
É preciso quebrar os espelhos. A imagem não é real. Mas se os espelhos se quebrarem como me verei?
Voltemos ao lago onde Narciso está. Vejamos nossa imagem refletida na água onde os raios incidentes formam uma imagem a partir de luminosidade que parte do corpo. Deixemos que a luz que irradia de nossa alma forme a imagem real, a imagem de nosso ser.
Essa sim é uma imagem que vale a pena ser refletida por vários espelhos.
Patrícia Prado
p.s. Texto produzido em outubro de 2005, ano da exposição

Um comentário:

Anônimo disse...

linda imagem.