terça-feira, setembro 21, 2010

Palavra, esse desafio

Palavra vem do grego parabolé e significa comparação, aproximação. Daí parábola, discurso alegórico. No sentido em que a conhecemos, espalhou-se pelas línguas românicas superando o termo latino verbum. Não há nenhuma intenção erudita nessa minhas primeiras frases, apenas busco um fio que me conduza à discussão da dificuldade que a maioria de nós tem em lidar com a linguagem. Fala-se muito no mundo e nem sempre com sensatez. Animal falante, o humano parece não se dar conta da importância dessa qualidade única e costuma despreza-la, gastando irresponsavelmente sua riqueza.
A palavra, originalmente, é aquele vocábulo que diz o que a coisa é, que se aproxima do objeto passando a significa-lo. Ouve-se o som e vê-se a representação. Maça tem cheiro e gosto de maça. Limão é redondo, tem líquido e é azedo. Cada uma tem sua história e, no momento em que é aceita, incorpora-se ao patrimônio de todo um povo.
É com elas que nos dirigimos aos nossos semelhantes, é através delas que somos capazes de transmitir os maiores carinhos ou as mais estúpidas agressões.
É por isso que eu aprendi a trata-las com a maior deferência, respeito. Tenho medo de usa-las de forma incorreta ou desleixada. Quantas vezes dizemos, ou queremos dizer, algo e somos entendidos de forma diferente do que pretendíamos? Quantas brigas e quanta incompreensão não nasceram de um jeito torto de falar ou de ouvir?
Pois aí reside o desafio maior de lidar com as palavras. Não basta que nos esforcemos em ser claros e sintéticos. Se nosso ouvinte não estiver equipado com o mesmo grau de compreensão, lá se vai toda nossa objetividade.
Quero expressar o belo, entendem o feio. Escrevo versos de amor e recebem mensagem de desprezo. Sou apenas um tímido incapaz de extravasar meus mais profundos sentimentos e tomam-me por um cara metido a besta, cheio de empáfia.
Às vezes até nos expressamos de forma exata, mas erramos no tom e o resultado nos é adverso. O que era para ser um alerta é visto como intromissão, o que de nós saiu como ponderação transforma-se num soco. Até mesmo o silêncio, aqui entendido como renúncia à palavra, pode virar-se contra o mundo.
Falo tudo isso para expressar o meu espanto diário ao abrir os jornais e ao assistir aos noticiários da televisão, com a facilidade com que muita gente desfila comentários e discursos os mais confiantes e desabusados, sem a menor cerimônia. Opina-se sobre tudo e com termos os mais descuidados.
O verbo é livre e viva a democracia. Mas um pouco de zelo na exteriorização dos pensamentos é essencial para que a palavra-parábola proporcione um encontro e não seja uma ação de se afastar do caminho direito. Pois, ela a palavra, tem esses dois significados conflitantes. É melhor que ela nos leve, sempre, ao encontro com os nossos semelhantes.

FERNANDO BRANT

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